Foto: Edilson Lima | Ag. A TARDE |
Em 2012, o boxe deixou de ser um simples esporte e se tornou um grande projeto social em Fazenda Coutos, no Subúrbio Ferroviário de Salvador. A mudança aconteceu depois da chegada do soldado Wilson Lopes, de 42 anos, que trouxe com ele o Campeão Cidadão, ideia abraçada pela Base Comunitária de Segurança do bairro e que passou a render muitos campeões.
Em abril, a garotada do projeto teve muito o que comemorar. Cinco alunos faturaram medalhas no Campeonato Baiano. Entre eles, Rafaela Abreu, que aos 17 anos participava de sua primeira competição e garantiu o ouro na categoria juvenil até 60 kg. "Antes da luta eu estava nervosa, depois fiquei emocionada. Tinha muita torcida lá e tava todo mundo gritando meu nome", lembra a pugilista.
Geusiane Ribeiro, 18, também era estreante nos ringues e garantiu um lugar no pódio com a medalha de bronze da categoria juvenil até 57 kg.
Aos 15 anos, Manuel Ribeiro é o mais novo e o mais experiente entre os medalhistas. Ele já participava de sua terceira competição, mas só agora terminou entre os primeiros colocados, ficando com a prata na categoria cadete até 57 kg.
O próximo desafio dos alunos de Wilson já tem data e local marcado. Entre os dias 21 e 29 de junho, eles estarão em Santa Catarina, onde disputarão o Brasileiro.
Entre meninos e meninas, a escolinha de boxe conta com mais de 215 alunos e a expectativa é de que o projeto continue a crescer.
Preconceito é o maior rival
Não existe descanso para as meninas campeãs. Entre treinos e lutas, elas ainda precisam enfrentar um forte adversário fora dos ringues: o preconceito. "Os meninos ficam discriminando, falando que boxe é coisa de sapatão. A gente é muito amiga e sempre anda junto, então já fica todo mundo comentando. Isso não tem nada a ver", desabafou Rafaela Abreu.
Ela garante, porém, não se abater com os comentários. Focada no boxe, a pugilista usa o preconceito como motivação para os treinamentos. "Eu tento não ligar para essas coisas que falam, sei que não é verdade. O melhor a fazer é continuar treinando todo dia para ganhar o respeito das pessoas dentro do ringue", disse a medalhista de ouro no Campeonato Baiano.
Professor é um paizão
"Fazer campeão é consequência, a ideia principal é a fraternidade, fazer com que eles se sintam felizes". É assim que o soldado Wilson Lopes resume sua relação com os alunos. Sempre preocupado com o que acontece fora dos ringues, até as notas na escola são importantes para ele.
"Melhorei minhas notas. Antes eu não gostava de ficar estudando, mas agora sei que é preciso", disse Geisiane, que frequenta o projeto desde 2012.
Superação para chegar lá
Iasmim da Paixão, 22, diz que tem seis derrotas em mais de 100 lutas . Hexacampeã baiana, campeã paulista e brasileira, ela conta que a vida de atleta não é fácil. "Ganho uma bolsa estadual de R$ 800 e uma federal de R$ 925, mas tenho que medalhar no Brasileiro.
Se perder lá, perde a bolsa". Mesmo com toda dificuldade, ela alimenta o sonho olímpico e, em junho, disputará o Brasileiro mirando uma vaga na seleção (categoria até 75 kg).
BCS também tem aulas de karatê
A Base Comunitária de Segurança (BCS) de Fazenda Coutos conta ainda com outros projetos sociais, como o Karatê do Saber, que existe desde julho de 2012 e é comandado pelo soldado Alisson. "A ideia do projeto é ajudar as crianças em situação de risco, resgatá-las da violência e trazer para o esporte", disse o professor.
Além disso, existem atividades de música, inclusão digital e orientação vocacional para os estudantes que ainda não se decidiram sobre a profissão.