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Condições dos vagões do Subúrbio denunciam décadas sem modernização

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Condições dos vagões do Subúrbio denunciam décadas sem modernização
Foto: Reginaldo Ipê

O vagão-motriz E-102 é quem puxava o pequeno comboio de três outros vagões no horário das 16 horas, saindo de Paripe em direção à Calçada. Com a frente carcomida pela ferrugem, portas sem fecharem direito e maquinistas tendo de entrar pela frente da composição, porque a porta interna já não funciona, espelhava bem a situação dos trens suburbanos, que depois de  mais de cinco décadas em operação ininterrupta e sem qualquer tipo de modernização, parece ter chegado ao limite.


 Atualmente apenas dois os trens operam o sistema de transporte no Subúrbio Ferroviário de Salvador. Dois outros ficam de reserva. E todos estão no limite operacional. Dos quatros existentes, duas são locomotivas (vagões motrizes) remodeladas em 2012, no Rio de Janeiro, na gestão do ex-prefeito João Henrique, e as duas outras têm mais de 50 anos em atividade. Servem um sistema que mal consegue transportar 15 mil pessoas por dia, num percurso de 13,5 quilômetros, entre os bairros de Paripe e Calçada. E por causa da fadiga de material, quebram a todo instante.


Em nota, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano do Estado, a qual tem como empresa operadora do sistema a Companhia de Transportes da Bahia, informou que por causa da chuva e, conseqüentemente do estado de conservação da ferrovia, as interrupções das operações são freqüentes, como a que ocorreu por mais de duas horas ontem, quando houve falta de energia e acumulo de lixo e lama num trecho da ferrovia, no bairro do Lobato.


Sobre a modernização do sistema, a secretaria informou que a substituição dos atuais trens pelo VLT (Veículo Leve sobre Trilho) ainda está em processo inicial de licitação na Casa Civil. Em 30 de setembro de 2014, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (SEDUR) publicou no Dário Oficial do Estado, o edital de pré-qualificação para as empresas interessadas na execução do VLT do Subúrbio. Em dezembro saiu o resultado que identificou três consórcios interessados (Consórcio Ferreira Guedes–SETEPLA–T’TRANS, Consórcio VLT Salvador e Consórcio TBHF VLT Salvador).


Rotina de defeitos


Para fazer o percurso de apenas 13,5 quilômetros, entre a Calçada e Paripe, os trens gastam em média 40 minutos, parando nas estações de Coutos, Periperi, Praia Grande, escada, Itacaranha, Plataforma e Santa Luzia. A velocidade média não chega a 40 quilômetros. Em trechos do trajeto, como nos bairros de Lobato, Escada e Santa Luzia, os trilhos passam próximos às casas, onde os riscos de acidentes são freqüentes e a velocidade se torna ainda mais reduzida.


Para quem costuma fazer o trajeto, como a vendedora Maria das Graças Lima e Silva, 42, há sempre a expectativa de interrupção do serviço, principalmente quando chove. “Não há conforto, segurança e muito menos a certeza de cumprimento dos horários”, diz, mostrando interior de um dos vagões, cujas portas estavam entreabertas. “Já deu. A máquina já não aguenta mais”, diz com bom humor outra passageira, Ana Maria Lima dos Santos, 39.


Os maquinistas, que pedem para terem o nome preservado, dizem que as locomotivas poderiam fazer até 60 quilômetros por hora, mas por causa da conservação dos trilhos, a velocidade é reduzida para mais da metade. Mesmo assim eles lembram que os trens têm um público fiel que usa o meio de transporte há mais de 50 anos. “São pessoas que foram criados e moram próximos à ferrovia e preferem os trens a usar os ônibus”, disseram.


Um século e meio de história


No curto trajeto de 13,5 quilômetros, entre a Calçada e Paripe existem 155 anos de história do transporte de passageiros na Bahia. A atual via férrea foi inaugurada em 28 de junho de 1860 pela empresa inglesa Bahia and San Francisco Railway Company (Estrada de Ferro da Bahia ao São Francisco). Mais tarde passou a  se chamar Viação Férrea Federal Leste Brasileiro (VFFLB). 


Até 1972 o transporte de passageiros atendia a todo o estado, com trens indo em direção a Juazeiro, Propriá (Sergipe), e Monte Azul (Minas Gerais). Na década de 80 o sistema foi desativado e com a privatização, nos anos 90, a antiga Leste Brasileiro passou a ser chamada de Ferrovia Centro Atlântica e os trens de passageiros passaram para a administração da Companhia Brasileira de trens Urbanos, restringindo-se ao trajeto entre as estações da Calçada e de Paripe.


No bairro de Paripe, onde termina a ferrovia, um portão fecha o acesso à última estação de passageiros. A partir dali,e em direção ao interior do estado,os trechos acabam e o traçado da ferrovia é ocupado por casas e até mesmo cobertos por camadas de asfalto em ruas que foram abertas e pavimentadas onde antes só passavam os trilhos.


Pelo atual projeto do VLT, ainda em fase de licitação, o atual traçado será aumentado para 18 quilômetros, estendendo-se até a região do Comércio, interligando-se com o sistema de ônibus e do metrô. Não há qualquer referência a um projeto anterior, também do Governo do estado, de estender o transporte de passageiros, a partir de Paripe, até Simões Filho e Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador.